Partiu…


Há algum tempo atrás ele partiu de todos os lugares,
sentado na poltrona junta a lareira, na varanda…
percorria os quatro contos da casa
Conversava, sorria, zangava-se…
Podíamos encontrá-lo num abrir e fechar de olhos.

Hoje o nosso olhar já não o encontra
Somente o coração o sente vivo,
Muito vivo dentro de nós…

Não está encerado entre pedras
Mas sim no aroma das flores,
Que nos abraça a alma
E nos rodeia na paz.

Hoje ele voa livre
E é como a luz das estrelas
E nos diz bem baixinho enquanto dormimos…

-Um dia voltaremos a nos encontrar…
Published in: on Setembro 17, 2006 at 4:13 pm  Deixe um Comentário  

Mulher

Lembra sempre que a tua pele se enruga,

que o teu cabelo fica branco…

e que os dias se transformam em anos.

que o mais importante não muda…

A tua força e a tua segurança não têm idade.

O teu espírito é o espanador de qualquer teia de aranha…

Atrás de cada linha de chegada, há uma partida,

atrás de cada engano, há outro desafio…

Enquanto estiveres viva, sente-te viva…

se fizeres algo de diferente, volta a fazê-lo.

Não vivas de fotografiras amareladas pelo tempo…

Segue em frente, ainda que todos esperem que desistas…

Não deixes que se enferruje o ferro que existe em ti…

Faz com que, em vez de pena, tenhas respeito por ti…

E quanto devido à tua idade não poderes correr… anda depressa.

Quando não poderes andar depressa… caminha.

Quando o não poderes fazer usa a bengala…

Mas nunca, nunca pares!

Published in: on Setembro 17, 2006 at 9:59 am  Comments (1)  

Balada Da Neve

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezinhos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
– e cai no meu coração.
Augusto Gil

A ti, MF…

Published in: on Setembro 5, 2006 at 8:34 am  Deixe um Comentário